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19 de fev. de 2015

Mais perto do céu

Essa é minha comunidade, lugar de tranquilidade, idas e vindas, tretas, fofocas, mas no fim todo mundo joga no mesmo time. Estamos mais perto do céu, é verdade, contudo, para muitos dos que moram nessa mescla de Travessa José de Freitas com Alto Cajueiro a vida é um inferno e matar dois leões por dia é vital numa sociedade que supõem ser morro lugar de pobre, gente sem opção, subir aqui só em tempo de eleição.



Hoje a coisa mudou, tem asfalto no chão, mas a contradição não deixou de existir, uma parte do morro foi lembrada, a outra não, tal como o filho mais velho esquecido. 

Viver no morro é ter que provar dia após dia que é bom, que é honesto, que não é ladrão, trabalhar, fazer hora extra e ainda cansado construir sua própria ponte no vale da omissão de quem não é bom, de quem não honesto e de quem é ladrão. E pensar que nossas personalidades politicas hão de passar por ela, prometendo revestirem-na de concreto, tal como na última vez que estiveram aqui. Pai, essa aí não tem, as TV’s não vieram mostrar seu processo de criação, nenhum apresentador expeliu sua baba... O construtor permanece invisível como os que diariamente passam por ela.


Viver no morro é bom, cada um sabe dos podres de cada um, logo, ninguém aqui se finge de santo, aliás, nosso morro é lugar de tolerância, é lugar de cultos, a Deus, aos deuses, as mulheres, a cerveja, ao futebol, pensar diferente aqui é lei.



Assim sendo, que me desculpe quem mora ali embaixo, na parte visível da cidade, aqui tão mais a vontade ando com os pés no chão, sem camisa sinto a brisa, entre tantos cuja farta generosidade se camufla num corpo supostamente raquítico, não de amor ou respeito. Prefiro esse lugar, afinal, me identifico mais com minha sombra nas portas velhas, frágeis e cheias de buracos que meu reflexo nas portas de vidro.





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