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26 de nov. de 2014

Rio Mearim, quem te viu, quem te vê!


Honra-me usar novamente esse espaço para tecer linhas sobre três pontos importantes, Rio Mearim, escolha de Ivo Gonsalves como Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Mearim, crise de água e o futuro, em ambas faço questão de ponderar levando em consideração o meio ambiente como ponto de interseção entra ambas as questões.

Não faz muito tempo, enquanto frequentava as aulas extraordinárias de história no antigo Olindina Freire ministradas pelo professor Eliud Santos, debatíamos sobre a história do Rio Mearim, quem o vê hoje, magrinho, não o imagina como a mais importante via de escoamento de produtos numa fase singular de nossa produção, destaque para o Algodão e Arroz, carros fortes de uma econômica que aos jovens de hoje parece tão utópica como as histórias do Harry Potter. O dito avanço chegou, trazendo estradas, novas formas de transportar, do rio evaporaram-se as grandes embarcações, o arroz a gente importa e o algodão compramos no supermercado, os peixes estão cada vez mais escassos, exceto os peixes grandes que lucram com a desgraça do rio, afinal, a areia que constrói casas decreta aos poucos a morte de nossa mais importante fonte hídrica, há exceções, fiscalize!

Lembro-me dos bons tempos em que meu pai me levava para a rampa, dos dois lados barracas repletas de melancia, num tempo em que pobre não frequentava clubes o Rio Mearim era a diversão mais democrática nos fins de semana, crianças, jovens e adultos faziam a festa, mas hoje a coisa é um tanto diferente, o rio perdeu não apenas seu valor no tocante a economia local, perde seu valor histórico, cultural, Pedreiras está perdendo sua identidade, seu começo, seus porquês. Aí lhes indago, já imaginaram a vida por aqui sem o Rio Mearim? Que tal alugar uma casa no morro do Calando para ter uma ideia?

Queria eu ser otimista com relação ao futuro, mas o hoje não me permite e não preciso ser Deus para ver um futuro dramático onde pedreirenses desejarão ter o rio de volta num tempo em que a falta d’água não vai ser só um problema dos moradores da Rua Santa Luzia ou da Travessa José de Freitas. Por que deveríamos esperar da nova geração amor e afinidade se esta não tem sido educada para isso, acredite, muitos pedreirenses só veem o rio porque precisam ir a Trizidela. Não podemos esperar que os adultos de amanhã o preservem se agora quando crianças e jovens não são estimulados a entendê-lo como parte de si, o Mearim que corre em nossas veias é o mesmo que grita por socorro, tentar separar é destituir-se de sentido, como povo temos falhado e já há quem pague o preço, a começar pelos pobres.

Cá pra nós, o Rio já está de saco cheio de toda sorte de dejetos que nele é jogado e de tantas falácias medíocres destituídas de ações concretas tanto da parte dos governantes como dos governados. Aliás, me citem uma ação prática eficaz nesses últimos anos em prol do Rio Mearim. Você já viu alguma “greve”, um protesto em prol dele? Da parte de nosso governo municipal nem me iludo, nem o meio ambiente, o Brasil ainda gagueja quando o assunto é sustentabilidade como se o conceito fosse oposto à ideia de desenvolvimento, sucinta foi à jornalista Miriam Leitão que defendeu uma ideia contrária ao dizer que “sem planeta não há produção”.

Corrobora com essa ideia um recém alerta dado Banco Mundial publicado no G1, onde as já ocorrentes mudanças climáticas são apontadas como agravantes da pobreza no planeta, o estudo quentinho aponta consequências das quais nosso contexto segue o ritmo, "As consequências para o desenvolvimento seriam graves, com uma queda dos cultivos, um retrocesso dos recursos aquáticos, um aumento no nível das águas e a vida de milhões de pessoas postas em perigo".  Em nosso país as questões ambientais são colocadas nas periferias das pautas políticas e atualmente as secretarias de meio ambiente, em sua grande parte, apenas refletem a visão doentia de que preservar o meio é barrar o avanço social e econômico.

Voltando para Pedreiras; na semana passada um importante passo foi dado para uma mudança de curso, enfim elegeu-se e deu-se posse a parte da direção do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Mearim, com um saldo negativo, a escolha de Ivo Gonsalves para a presidência do mesmo, seu cético para acreditar que o atual secretário de meio ambiente de Pedreiras atuará tal com o rigor que o cargo requer, o motivo do ceticismo? Sob seu comando a atual pasta verde é marcada pela inércia, insignificância e nenhuma representatividade, servindo apenas para dar licenças a festas, o que lhe compete, é claro. Na minha opinião sua postura não rima com a objetividade, coragem e independência que o cargo requer, em outras palavras, o presidente do comitê terá como uma de suas atribuições fiscalizar a si mesmo enquanto secretário de meio ambiente, se vai funcionar? Espero queimar minha língua!

Cabe lembrar que a direção é composta por outros nomes, é bom que se diga que não vai ser o Comitê que resolverá os problemas que o rio enfrenta, então nada de vê-lo como um super- herói, cabe-lhe apontar rumos, dados e diretrizes para o uso coerente de nossos recursos hídricos. Não se podem restringir as agressões aos canos dos que moram as margens do Rio, ela ocorre desde os igarapés e somos de alguma forma participantes, de grandes empresas ao cidadão que joga a latinha no chão pela falta de lixeiros, onde vai parar? Sabemos muito bem! O atual estado de degradação do Rio também decorre de décadas da ausência planejamento, aliás, Pedreiras não foi planejada, até quando vai perdurar? 2016 trará consigo respostas!



Uma coisa é certa irmãos pedreirenses, nada disso vai mudar se a política não mudar, a começar pelas campanhas, que são chatas, com um monte de gente chata rodeando um político dizendo que é o cara. Em 2016 teremos a chance de colocar o Rio Mearim, O Bosque Seringal, o Insono e tantos outras questões ambientais nas pautas dos debates, oxalá se tivermos campanhas propositivas, assim não corremos o risco de reeleger alguém que se quer sabe o que é uma bacia hidrográfica. Será a hora de acocharmos na parede da dialética aqueles se apresentarão como dignos de nos representarem tanto no executivo, quanto no legislativo e os que aí estão? Plantarem batata no asfalto não seria má ideia, afinal, asfalto é o que não falta, pelos menos nas propagandas.



Concluo indagando: E o futuro?

Nossas crianças só conhecerão o Rio por meio dos raros livros publicados, ouvirão sobre ele nos poemas desejando ter alcançado o ar da graça de poder ter banhando em suas águas barrentas, a vida doméstica se tornará mais penosa, o mandi vai desaparecer do prato de quem vive da pesca, a agricultura cambaleará, tudo isso somados aos eventos climáticos radicais que são previstos aos quais também seremos vulneráveis e isso é só um leigo resumo. Apesar da desesperança que bate em nossa porta, precisamos reagir, surgir, agir, há uma história sendo escrita e como bem escreveu Elisa Lucinda: "Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final".

Quim Buckland
Fotógrafo





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Um comentário:

  1. Achei muito interessante e bonita a postagem e vou levar para o Blog do Carlinhos http://www.carlinhosfilho.com.br/

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